Passou o final de semana e nada de melhorar.
Segunda-feira, acordei às 6h em ponto, trajei minha fantasia de executivo e saí
para o trabalho, pensando ainda a que horas será que saíra Filipe da sua, que
café da manhã tão diferente do meu que ele tomava, no beijo de abraços apertados
que seus filhos lhe davam antes de irem às suas escolas particulares conduzidos
pelo motorista, no olhar orgulhoso de sua esposa ao contemplar o bem sucedido
marido. Nem sei por que eu usava terno, já que minha função não exigia o traje
e era minha cadeira quem de fato vestia meu paletó, enquanto dobrava eu mangas
da camisa e cravava os olhos a tela do computador sem saber por onde começar.
Meu chefe, requintado homem de negócios - e um pouco inescrupuloso -, trouxera,
no derradeiro dia de folga, mais pastas e folhas e papéis para eu ler e buscar
“erros” matemáticos. Não sei bem ao certo se procurava as tais falhas ou se o
meu trabalho era encontrar falhas nas maracutaias das empresas auditadas, para
que eles a corrigissem antes da auditoria pública. Além do fato de que era
sempre para mim que os auditores olhavam feio depois que suas auditorias não
davam em nada. “O importante é passar pela fiscalização”, disse certa vez meu
chefe. Como eu não era fiscal, mas supervisor, nada podia fazer.
Como estava sempre atarefado e quase nunca olhava a
linda vista da minha janela, pode ser que aquele homem estivesse há muito tempo
ali imperceptível. Como pode alguém viver no meio de uma praça? Que vida esse
homem tem?
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